Bar e Restaurante do Chicão

Nosso bar de cada dia

Por Herasmo Leite

Chicão levanta cedo. Afinal um bom bar e restaurante necessita de suprimentos, logística, bebidas e petiscos. Todos os dias pontualmente às 10:00 horas as portas do célebre Bar e Restaurante do Chicão já estão abertas.
Chicão, para receber seus clientes e amigos, está sempre presente mas nunca alinhado.Com cabelo e barba por fazer, com camiseta de gola pólo, bermuda e sandálias tipo franciscana, está sempre pronto para soltar sua voz inconfundível, aguda e vibrante. O seu ar comportado, mas brincalhão, nos apresenta um empreendedor ainda em inicio de atividade. A música não é de qualidade, coisa comum nos restaurante da cidade. A política tem pauta garantida e um traço indelével da Casa: os acalorados debates e pendengas que se repetem dia após outro.
Localizado no centro da Praça Sarney entre uma escola publica (Odorico Mendes) e uma particular (colégio Pinheirense), e nas proximidades do Banco do Nordeste, Banco da Amazonia, Prefeitura da Cidade, Forum da Justiça Comum e Eleitoral, Agencia dos Correios, vários comércios e pouquíssimas residências, o Bar e Restaurante do Chicão é um ponto de encontro de professores, estudantes, boêmios, artistas, políticos e profissionais liberais. Os intelectuais da cidade. Os destinos da cidade invariavelmente são discutidos por lá.É um lugar privilegiado para preparação das teses políticas e também consagração das vitórias e afogamento das derrotas. Talvez seja pretensioso, mas é um “lócus” de produção de saber. Os debates são intensos, tem piada para todos os gostos, poesias declamadas, amizades reafirmadas, amores declarados, teses e projetos sonhados, explanações de alguns realizados, onde o impossível vira concreto e a imaginação ou cria asas ou vira uma pesada ressaca.
É uma espécie de lenda o jeito direto do proprietário confrontar seus interlocutores. O verniz de durão logo passa, e se nos apresenta, depois de um certo “estágio probatório”, o bom e velho tempo, coisa comum à gente de Pinheiro, como uma boa alma. Daí em diante tudo é possível, até o fiado.
Tem um time de nominata extensa que só sai com o cisco, ou seja, na derradeira hora, após dezenas de saideiras. A disciplina do Chicão e as obrigações do novo dia que não tarda a mostrar a cara, impõem o fechamento por volta da meia-noite, não sem antes serem ouvidas as costumeiras frívolas reclamações na mesma balada dos shows de música: Mais uma! Mais uma…
O Bar e Restaurante do Chicão passou a ser o eco das coisas sérias e engraçadas de Pinheiro. Ao seu burburinho é possível ouvir o que a cidade sugere e suas principais reivindicações, quais seus personagens ilustres e aqueles mal-afamados. Bem aos poucos, como um filtro de integração à lógica da cidade, vai sendo possível aprender com o povo que por ali se mistura, mas igualmente apreender as coisas da terra, que venham do luxo ou do lixo, do público ou o privado, dos gabinetes ou das ruas, dos ricos ou dos pobres, dos poderosos ou dos desvalidos.
E como isso só acontece, nos melhores lugares da terra, deixo o meu agradecido abraço ao dono da Casa, o próprio Chicão, ao mascote do bar, nosso amigo Chico do Gel, aos companheiros Valney, Dr. Gico, sargento Nogueira, Febre do Rato, Lauro Cordeiro,Ferreira, Braço Quebrado e outros frequentadores.