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quarta-feira, novembro 20, 2013

EM ARTIGO, PESQUISADOR QUER PROTEGER A JAÇANÃ E SÃO JOÃO BATISTA É CITADO PELA FORTE SECA


Postado Por: Jailson Mendes As 19/11/2013 | 22:37

São cinco da manhã. O céu, completamente negro, começa a ganhar cor ao ser invadido lentamente pelos primeiros raios de sol do dia. Dentro de uma embarcação de madeira, estreita e pequena, dois homens se equilibram rasgando os campos inundados da Baixada Maranhense. O de trás impulsiona a canoa, tocando o remo artesanal no fundo terreno alagado. O da proa empina a espingarda, ajustando a mira, em busca do tiro certeiro. O silencio da paisagem verdejante só é rompido pelo atrito do pequeno barco na vegetação, o suficiente para assustar as jaçanãs que ali se refugiam para reproduzir. Atordoadas, elas levantam voo em uma tentativa frustrada de se defender. Ouve-se um disparo e, logo, a ave cai morta e é posta dentro da embarcação. O ritual se repete toda manhã. 
De barco cheio, os caçadores voltam à terra firme a procura de compradores. Algumas já têm, até, destino certo, já que são caçadas sob encomenda. As aves, então salgadas e vendidas aos pares, custando, cada um, entre R$ 15 e 20 reais. A cena descrita acima é comum em várias municípios da Baixada Maranhense. A caça de jaçanãs, além de uma forma de sustento, é uma tradição entre aquelas comunidades, sendo o arroz preparado com a ave, uma iguaria típica da região. A Baixada Maranhense possui um ecossistema único, formado por grandes planícies baixas, que alagam na estação chuvosa, criando enormes lagos entre os meses de janeiro e julho. Cenário ideal para reprodução das jaçanãs, aves sazonais que tem sua ocorrência determinada pela pluviosidade. “ As jaçanãs são aves migratórias. Em meados de julho e agosto, quando acaba a reprodução , elas começam a retornar para as suas áreas de origem, que ate hoje são pouco conhecidas”, revelou Antonio Augusto Ferreira Rodrigues, doutor em Ciências Biológicas, com experiência na área de Biologia de Aves Costeiras Marinhas, Migratórias e Residentes.


Segundo o pesquisador, existem registros de caçadas a essas aves desde a década de 60. A intensidade dessa caça e a falta de açõesvoltadas para a preservação da jaçanã, levaram Antonio Augusto Rodrigues a desenvolver a pesquisa “Sustentabilidade e Conservação da jaçanã”. Um recurso alimentar tradicional na Baixada Maranhense”. “ Com esse estudo queremos conhecer a extensão dessa caça, em que município ela é mais frequente, e quais áreas seriam mais interessante estabelecer um mapeamento de ocorrência e reprodução, explicou”. O grande ponto dessa discussão diz respeito a uso sustentável dos recursos naturais, que deve suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras. No caso da Baixada Maranhense, o maior risco consiste no uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte do ecossistema.


Considerando o total desconhecimento do status populacional da jaçanã, devido à ausência de dados consistente sobre a sua dinâmica, Rodrigues considerou imprescindível o estudo dessa espécie do ponto de vista da sustentabilidade e conservação, assim como pelos fatores ambientais, sociais e culturais envolvidos. “ A grande ideia do projeto é descobrir se esse recursos a longo prazo pode ser exaurido de alguma forma. Embora saibamos que a caça é bastante localizada, que os animais não andam em bandos muito grandes e que os caçadores possuem uma limitação natural devido á dificuldade de acesso ás áreas, as informações que temos é que as caçadas são muito extensas, chegando um caçador a abater de 40 a 80 exemplares a cada caçada”, justificou. Em 1962, o pesquisador Álvaro Aguirre já mostrava preocupação com a conservação das jaçanãs ao observar em seus estudos a ausência de dados estatísticos populacionais da jaçanã e a indiscriminada matança que já ocorria nos municípios de São Bento e são Vicente Ferrer. Ele contabilizou por volta de 150.000 aves abatidas em única temporada. Já Rodrigues, em um levantamento realizado em 2012, estimou que 10 mil exemplares foram capturados apenas no municípios de São Bento.

PROPOSTA DE CONSERVAÇÃO

Durante a execução da pesquisa, que conta com o apoio da Fundação de Pesquisa de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão(Fapema), Antonio Augusto Rodrigues pretende percorrer a maioria dos municípios da Baixada Maranhense, fazendo um mapeamento da ocorrência e identificando as áreas de reprodução. “ A reprodução de toda espécie é garantida por lei, só que isso não vem sendo observado nessa região, já que a jaçanã, além de servir para alimentação, é utilizada como fonte de renda”. Ações efetivas que prezem pela conservação e sustentabilidade da ave são cada vez mais urgentes, já que, além da caça indiscriminada, as chuvas estão cada vez mais escassas na região. “ As jaçanãs são completamente adaptadas a ambientes úmidos. Suas pernas alongadas são apropriadas para andar na vegetação aquática. Elas não sobrevivem em áreas de seca.É uma animal que depende completamente de fatores ambientais para sobrevivência , como a disponibilidade de chuva em determinado períodos do ano. Esse ano choveu muito pouco. Temos inclusive informações de que em alguns municípios, como Palmeirândia e São João Batista, os campos não encheram”,alertou o pesquisador.
Para Rodrigues , proteger a reprodução da jaçanã é a solução para a garantia de sua conservação.” O ideal seria estabelecer período de caça, após o período de reprodução e eclosão dos ovos. A proteção desta reprodução garantiria uma taxa de renovação dessa população, ou seja, os indivíduos que nascessem agora iriam crescer, dentro de alguns meses migrariam com os adultos e voltariam para reproduzir nos anos seguintes”, detalhou. Após a conclusão da pesquisa, Antonio Augusto Rodrigues pretende submeter os resultados à Secretaria de Estado de Meio Ambiente, a fim de que ações possam ser desenvolvidas em prol da conservação e sustentabilidade da jaçanã, como estabelecimento de períodos de proteção e caça de espécie e políticas de conscientização ambiental.


Segundo o pesquisador, os próprios caçadores confessam ter percebido uma diminuição na quantidade de jaçanãs. A conservação da ave, dessa forma, é urgente, representando não só um beneficio para a própria população, mas a preservação de um maiores símbolos culturais da Baixada Maranhense. Fonte: Revista Inovação/Fapema.

Folha de SJB

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