Texto da Comissão de Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica e e Enf.ª Ananda Fernandes, representante da OE na Comissão Nacional de Controlo da Dor da DGS
Em todo o mundo, a dor é um grave problema de Saúde Pública. Segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP), nos países desenvolvidos a dor afecta cerca de 20% da população adulta, sobretudo mulheres e idosos, mas também as crianças sofrem de dor recorrente ou persistente. Só1-2% dos adultos têm dor de causa oncológica. Cerca de 30-40% sofrem de dor músculo-esquelética e problemas articulares. A dor de costas e pescoço afecta outros 30%. A cefaleia e a enxaqueca representam menos de 10% dos casos de dor persistente.
A dor aguda após um traumatismo ou cirurgia é um sinal de alarme indicando lesão dos tecidos. Mas quando a dor se prolonga para além da sua utilidade como sinal de alarme, após a cicatrização dos tecidos, ela deixa de ser um sintoma. Neste caso, a dor crónica é, por si só, uma doença, espelhando alterações fisiopatológicas no sistema nociceptivo e respostas psicossociais que perpetuam o problema. Estas alterações podem tornar-se mais importantes do que a doença ou situação inicial que originou a dor aguda.
Apesar de não constar nas estatísticas como causa de mortalidade, a dor acompanha as 10 principais causas de morte dos 15 aos 59 anos e acima dos 60 anos: a SIDA, a doença cardíaca isquémica, a tuberculose, os acidentes rodoviários, a doença cérebro-vascular, as lesões auto-provocadas, a violência, a cirrose hepática, as infecções respiratórias baixas, a doença pulmonar crónica obstrutiva, o cancro da traqueia, brônquios e pulmão, a diabetes mellitus, a doença cardíaca hipertensiva, o cancro do estômago, o cancro do cólon e recto (Bond & Breivik, 2004).
É cada vez maior o fosso que separa o que hoje se sabe sobre a dor e o seu tratamento e a aplicação desse conhecimento na melhoria da qualidade de vida das pessoas com dor. A dor é ainda mal tratada por razões culturais, atitudinais, educacionais, políticas e logísticas (Brennan Frank & Cousins, 2004).
Perante este cenário dramático foi criado em 2004 o Ano Global contra a Dor, numa iniciativa conjunta da IASP e da Organização Mundial de Saúde, o qual terá como tema para 2009-2010 a «Dor Músculo-esquelética» (www.iasp-pain.org).
Em Portugal, estava já instituído, desde 1999, o Dia Nacional de Luta contra a Dor que agora se assinala na 6.ª feira da Semana Europeia contra a Dor, que em 2009 decorrerá de 12 a 19 de Outubro. Esta semana é apenas a primeira de um ano que terá como tema a «Dor Crónica e Depressão» (http://www.efic.org/ewap.php).
A Ordem dos Enfermeiros, no seu compromisso para com a saúde dos cidadãos, junta-se aos que a nível nacional, europeu e mundial pugnam para que o controlo da dor seja efectiva e responsavelmente assumido pelos profissionais de saúde, doentes e suas famílias.
Assim, a Ordem dos Enfermeiros, por ocasião do Dia Nacional de Luta contra a Dor, vem lembrar aos enfermeiros portugueses que a boa prática de Enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, 2008) requer que os enfermeiros, consoante a sua área de actuação, seja a prestação de cuidados, a formação ou a gestão:
- Avaliem a dor como 5º sinal vital;
- Colaborem com os restantes elementos da equipa multiprofissional no estabelecimento de um plano de intervenção farmacológica e não farmacológica para o controlo da dor;
- Respeitem a autonomia da pessoa, envolvendo-a e à sua família, no controlo da dor;
- Assegurem a continuidade dos cuidados, documentando a história de dor, a avaliação da dor e as intervenções realizadas;
- Actualizem e proporcionem a aquisição de competências de controlo da dor;
- Promovam e apoiem políticas organizacionais favorecedoras do controlo da dor;
- Promovam e apoiem a investigação de novas formas de melhorar o controlo da dor.
O controlo da dor é um direito das pessoas e um dever dos profissionais de saúde.
Texto elaborado pela Comissão de Especialidade de Enfermagem Médico-Cirúrgica em conjunto com a Enf.ª Ananda Fernandes,
representante da Ordem dos Enfermeiros junto da Direcção-Geral da Saúde no Programa Nacional de Controlo da Dor
– Comissão Nacional Controlo da Dor
Referências bibliográficas:
Bond, M. & Breivik, H. (2004). Why Pain Control Matters in a World Full of Killer Diseases. Pain:Clinical Updates XII[4], 1-4.
Brennan Frank & Cousins, M. J. (2004). Pain Relief as a Human Right. Pain:Clinical Updates XII[5], 1-4.
Ordem dos Enfermeiros, Conselho de Enfermagem (2008). Dor: Guia Orientador de Boa Prática. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros.
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